quinta-feira, 24 de março de 2011

Som

Se eu pudesse ser qualquer coisa pra ser feliz e ganhar dinheiro com isso, seria guitarrista de uma banda de rock. Não é um sonho, não é algo que eu vou correr atrás. É só um desejo profundo, quase secreto. Eu poderia dirigir filmes também, mas ainda assim tocaria numa banda. Não é pelos aplausos que tomam conta de qualquer pessoa, nem pela energia de ter multidões compartilhando um mesmo sentimento que, no momento, está sendo guiado por ti. 

Não é pela fama e muito menos pelo dinheiro. Se eu tivesse certeza que tocar numa banda fosse dar a mesma quantidade de dinheiro mensal que um trabalho comum, ainda assim eu toparia. Não é pra ser exemplo de boa conduta, nem Ra fazer escândalo. Não é pra mostrar que mulheres também podem fazer competentemente trabalhos tradicionalmente masculinos. Não. É só pela sensação.

A sensação de poder estar em vários lugares ao mesmo tempo. Eu não pertenço a esse lugar aqui nem a qualquer outro. Sim, eu pertenço a todos os lugares. Eu pertenço ao lugar em que estiver. Através do som das cordas da minha guitarra, muitas vezes nem notada, eu posso estar em quartos melancólicos, em carros velhos, em festas agitadas, tudo ao mesmo tempo, assim como eu gosto, assim como eu sou: tudo ao mesmo tempo.

Talvez devesse me envergonhar de não desejar ser um grande curador de multidões, uma repórter que busque manifestos populares para mudar a situação do mundo, uma famosa ativista ambiental que luta diariamente contra o aquecimento global, mas não. Eu não me envergonho. Todas essas coisas são sim, importantes. Mas alguém já imaginou a vida sem música? Como seria o mundo sem guitarras elétricas? Porque as pessoas não acham isso importante?

Claro que é importante. Música é cultura e ter um conhecimento cultural elevado muitas vezes é mais interessante do que ter um conhecimento em matemática elevado, ou em biologia, ou em pessoas. Música é entretenimento e ter momentos de lazer na vida não é só importante, é fundamental. Mas além disso, e mais importante que tudo, música é sensação.

Feche os olhos. Bata palmas, toque seu corpo, arranhe sua pele. Sentiu? Isso definitivamente é importante. Sentir o que não pode ser fisicamente provado nem visto é, então, mais do que especial, é uma dádiva. A música entra em você, a guitarra ecoa no seu corpo e na sua mente, você sente o som. Feche os olhos novamente. Aumente o volume. Você pode quase tocar o som, de tão concreto e absoluto que ele parece.

quinta-feira, 10 de março de 2011

Clichê e ousadia

Não sei porque tanta gente fala de clichê como algo ruim. Clichês são legais. Vou ainda além: clichês podem ser inovadores. É engraçado como certos grupinhos sociais se unem contra o clichê da sociedade e se tornam clichês dentro de seus grupos. Confuso? Bom, pode até ser, mas é verdade. Se nos despirmos do preconceito que encapsula a palavra "clichê", podemos ser bem ousados. 
As pessoas se acham diferentes por ter um estilo diferente que é exatamente igual ao estilo do seu grupo de amigos, ou se sentem superiores por não gostarem de canções populares ao mesmo tempo em que nem conhecem o idioma em que cantam. 
Por mim, você pode se vestir como velho, ou pode se colorir como o Restart, pode pintar as unhas de preto ou clarear o cabelo até ficar branco-lady-gaga, você pode até (e isso é grave) assistir o Big Brother Brasil e ouvir Calipso secretamente. Você pode ser quem você quiser, você pode ser diferente de tudo e de todos. E é justamente por essa liberdade que você também pode escolher ser igual, mesmo que ser igual seja clichê. E aí você vai estar seguro de ser quem você é e, por ser assim, você se torna ousado.
Confuso de novo, né?
Então deixa pra lá. 

terça-feira, 1 de março de 2011

Sobre as regras sociais

Gosto de decepcionar. É um fato. Gosto de passar a impressão errada, a que vai contra as regras sociais. Me divirto deixando os outros pensarem livremente que sou revoltada, rebelada, a ovelha negra. Gosto de falar tudo o que penso. E é tudo verdade, não se engane. Realmente penso essas coisas. Minhas opiniões, minhas visões, meus conceitos e teorias são todos expostos com grande facilidade. Até que alguém me conhece profundamente e descobre que, afinal de contas, eu não sou assim. Às vezes posso até ser o oposto. E aí ela se decepciona justamente – e contraditoriamente - por eu ter guardado um muito de mim pra ela.