sexta-feira, 22 de abril de 2011

Movimento

Se as fases da vida equivalessem a gestos cotidianos, eu diria que naquele momento eu estava sentada numa cadeira pegando um pouco de vento e sol. Então ele apareceu e me levantou, dançou comigo, me levou pra tomar banho de mar e me fez conhecer a velocidade. Aí me trouxe de volta e a cadeira tinha sumido. Então fiquei em pé, triste por  ter perdido todas as experiências que agora eu conhecera e por não poder nem sentar na mesma velha cadeira. Eu tava bem com minha cadeira e ele me tirou do lugar. Porque fez isso se sabia que não ia poder me devolver pro mesmo lugar do qual me retirou?

terça-feira, 5 de abril de 2011

Ao meu primeiro amor

Lembro do dia em que fomos apresentados. Estava nervosa, ansiosa, louca pra te ver. Tudo foi tão natural, a química foi de primeira. Experimentamos um ao outro, cada toque, cada segundo. Foi um dia único, incrível. Aos poucos, fomos nos conhecendo cada vez mais e construímos o relacionamento mais estável da minha vida. Brigas? Muitas. Já bati em você, chamei palavrão, chorei de raiva. Já passei sufoco em dias chuvosos, já decidi terminar, já troquei você por outro.  Mas, no final das contas, sempre nos entendíamos.  

Hoje é nossa despedida e, apesar de saber que essa relação já não daria mais certo, meu coração está esmagado. Hoje você sai de casa e vai conhecer um outro mundo com um outro alguém. É sempre assim e é assim que tem que ser. Eu sei. Não vim pra lutar contra isso, mas pra dizer o quanto tudo que nós passamos juntos valeu a pena. E como valeu! 

Quem sabe um dia nos encontramos por aí pela cidade e eu possa lembrar, com essa saudade que já tá apertando, o quanto foi bom ter você por perto.



Homenagem ao meu primeiro carro: um Fox duas portas preto, com maçanetas cromadas, janelas problemáticas e uma batida na lateral: um carro (às vezes inconvenientemente) único na cidade de Belém.

Todas as cores do amor

Dizem que a paixão é vermelha, o calor é amarelo e a paz é branca. Interessante é perceber que o amor tem várias as cores. Cada amor tem uma cor. Quando um amor não é correspondido ele é cinza, fechado, triste. Quando você está em início de namoro é amarelo: brincalhão, chamativo e descontraído. Quando é amor sincero, de muitos anos, é azul: às vezes claro, às vezes escuro. O amor gay, é roxo, intenso. Já o amor de escola é verde: tudo pode, mas dentro dos limites. O amor proibido é vermelho, o amor à distância é alaranjado, está sempre em alerta e o amor infantil é prateado, cheio de brilho.

O amor nunca é preto, porque só pelo fato de ser amor, ele carrega em si sua doçura, um "quê" de abertura, de aventura, de novidade. Sempre o amor é acompanhado de alguma espécie de felicidade, mesmo que às vezes seja difícil reconhecê-la. O amor também nunca é branco. Ele sempre causa, nem que seja em quantidade pequena, uma dose de transtorno, de desequilíbrio, de perdição.

É aí que tá a grande graça do amor. Ele pode se misturar, formar novas cores e se redescobrir.

segunda-feira, 4 de abril de 2011

Sobre idéias e mangas

Ela balançava as pernas freneticamente. Fazia isso sempre, mas naquele momento a impressão que passava estava realmente correta: o nervosismo parecia tomar conta de cada parte do seu corpo e da sua mente. Debaixo daquela mangueira, mil idéias surgiam. Elas iam, vinham e se despedaçavam assim como as mangas que caíam daquela árvore. Ele nem disse que viria realmente, só insinuou que podia estar lá. Talvez tivesse acontecido alguma coisa. Talvez o acidente que presenciara agora há pouco tivesse engarrafado o trânsito e ele perdera a hora. Talvez tenha acontecido algo com a avó e ele tivera que sair do trabalho direto para ajudá-la. Talvez ele perdera o número do telefone. Talvez ele tenha esbarrado com uma gangue alienígena, ou talvez com dinossauros velozes que vieram à terra com a missão de impedir aquele encontro.

Já estava escurecendo e as idéias que pareciam mangas ainda caíam, mas cada vez em menor quantidade. Daqui a pouco não existiriam mais mangas na árvore e as idéias e desculpas já estariam todas espatifadas no chão. Era melhor ir embora. Ela respirou fundo, pensou que talvez não fosse tão ruim assim e caminhou de maneira triste e suave de volta pra casa. Sem mangas, sem idéias.

Ele ainda pensou em ir. Às vezes chegava à conclusão de que queria muito ter ido. Mas tinha algumas coisas a resolver e isso serviu de desculpa para si mesmo por não tê-lo feito. Então ficou pensando deitado, ouvindo um rock meio country antigo e pensando em como teria sido se tivesse ido. Porque não foi mesmo? Nem ele sabia responder. Talvez fosse melhor ligar, se explicar, mas deixou pra depois.

Um dia se esbarraram debaixo daquela mesma mangueira. Olharam-se profundamente, cumprimentaram-se e falaram algo superficial sobre como andava a vida. Ela pensou em xingá-lo ou em cometer algum ato de violência qualquer que fizesse ele demonstrar algum sentimento. Ele pensou em falar o quanto queria ter ido naquele dia, queria se desculpar. Somente pensaram. Assim como as mangas que hoje não caíam por causa do vento parado, as idéias ficaram só na cabeça. E ambos seguiram em frente, assim como tinha que ser.