Ela balançava as pernas freneticamente. Fazia isso sempre, mas naquele momento a impressão que passava estava realmente correta: o nervosismo parecia tomar conta de cada parte do seu corpo e da sua mente. Debaixo daquela mangueira, mil idéias surgiam. Elas iam, vinham e se despedaçavam assim como as mangas que caíam daquela árvore. Ele nem disse que viria realmente, só insinuou que podia estar lá. Talvez tivesse acontecido alguma coisa. Talvez o acidente que presenciara agora há pouco tivesse engarrafado o trânsito e ele perdera a hora. Talvez tenha acontecido algo com a avó e ele tivera que sair do trabalho direto para ajudá-la. Talvez ele perdera o número do telefone. Talvez ele tenha esbarrado com uma gangue alienígena, ou talvez com dinossauros velozes que vieram à terra com a missão de impedir aquele encontro.
Já estava escurecendo e as idéias que pareciam mangas ainda caíam, mas cada vez em menor quantidade. Daqui a pouco não existiriam mais mangas na árvore e as idéias e desculpas já estariam todas espatifadas no chão. Era melhor ir embora. Ela respirou fundo, pensou que talvez não fosse tão ruim assim e caminhou de maneira triste e suave de volta pra casa. Sem mangas, sem idéias.
Ele ainda pensou em ir. Às vezes chegava à conclusão de que queria muito ter ido. Mas tinha algumas coisas a resolver e isso serviu de desculpa para si mesmo por não tê-lo feito. Então ficou pensando deitado, ouvindo um rock meio country antigo e pensando em como teria sido se tivesse ido. Porque não foi mesmo? Nem ele sabia responder. Talvez fosse melhor ligar, se explicar, mas deixou pra depois.
Um dia se esbarraram debaixo daquela mesma mangueira. Olharam-se profundamente, cumprimentaram-se e falaram algo superficial sobre como andava a vida. Ela pensou em xingá-lo ou em cometer algum ato de violência qualquer que fizesse ele demonstrar algum sentimento. Ele pensou em falar o quanto queria ter ido naquele dia, queria se desculpar. Somente pensaram. Assim como as mangas que hoje não caíam por causa do vento parado, as idéias ficaram só na cabeça. E ambos seguiram em frente, assim como tinha que ser.
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