Rompi com a sociedade. E ao fazer isso, fui engolida por ela. Descobri, por fim, sua mesquinhez entranhada em suas vísceras. Diz-me o que fazer, o que escolher o que falar. Se eu pensar... Não! Não posso pensar. Não posso falar. Não posso. Não pode. É feio, é cruel, é maldade. A verdade deve ser escondida e as relações manipuladas. Olhei e logo vi. Logo não, demorou o tempo que se demora para se apegar. Me apeguei a esta sociedade e depois de ceder-lhe todo meu amor, meu humor, minha simpatia, ela amou-me de volta e me acolheu. Mas foi só pensar – pensar e expor – que ela se virou contra mim como se a mensagem subtendida não tivesse sido percebida por mim. “Me ame, mas cale-se.”
Rompi com a sociedade. Decepcionei-me com ela justamente por amá-la e justo por amar ainda mais a parte que não deveria ter amado: as diferenças. E como ainda as acho lindas! Elas me fascinam, me encantam, me arrebatam, avassalam meu coração. Eu poderia sentar-me ao pôr-do-sol todos os dias só para admirá-las. E a cada defeito encontrado nelas, ainda mais me apaixonaria.
Mas como se sabe, a paixão acaba e, como se sabe, acaba primeiro de um lado. E então ela me odiou por eu amar suas diferenças, seus defeitinhos encantadores e me decepcionou. Tive que romper com a sociedade. E ao fazer isso, aliei-me à ela, da forma mais suja que alguém pode se aliar. Para voltar aos seus amores, cedi às suas regras, perdi minha liberdade.
Rompi com a sociedade. E ao fazer isso, reatamos de uma maneira diferente. Agora me submeto aos seus desejos só para não perdê-la.
Rompi com a sociedade. E, ao fazer isso, rompi comigo mesma.
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